Porque buscar pelo diagnóstico nunca é tarde demais
O que está errado comigo?
Muitas pessoas frustradas com a dificuldade de alcançar seus objetivos ou de sentirem que não estão vivendo o seu máximo potencial, estão tentando responder a uma pergunta: “o que tem de errado comigo?”, poderia me incluir nessa categoria alguns anos atrás, talvez a alguns dias atrás também. Já tivemos diagnósticos, muito provavelmente relacionados com transtornos do humor ou dificuldades de aprendizado.
Mas o TDAH, quase não vem à mente (talvez agora venha com bem mais facilidade), e quando vem é uma dificuldade de aceitar essa possibilidade, existe sempre uma outra justificativa. TDAH coexiste com diferentes transtornos ao mesmo tempo, muitas vezes potencializando os sintomas e prejuízos destes, dentro dessa perspectiva os diagnósticos anteriores que tivemos não estavam errados, mas incompletos. Isso falando quando nos damos uma chance de investigar como nossa saúde mental está, pois ainda temos os autodiagnósticos (criados por nós ou adotados): “preguiçoso”, “sem motivação”, “você que não quer realmente”, “você não se importa” etc; que influenciam nossa decisão de passar pelo processo investigativo de um processo transtorno.
Diagnosticar o TDAH é desafiador em qualquer idade, é um processo que precisa de bastante atenção, ele existe, como comentei antes, com outro transtornos, um fenômeno muito comum na realidade; ainda não temos testes específicos que revelam um TDAH “dormente”, assim como os critérios para o diagnóstico que ainda são baseados na expressão do transtorno em crianças (em sua maioria meninos brancos), dificultando a identificação e validade de como o transtorno pode se expressar em outras comunidades, como em mulheres e em adultos acima de 60 anos, que o próprio processo de envelhecimento já trás sintomas que imitam aqueles verificados no TDAH, assim como ele pode se sobrepor com alguns sinais do comprometimento cognitivo leve e demência, o que faz com que esses adultos nem falem sobre as dificuldades de atenção (ou também em particular sintomas relacionados a memória, rotina, e funções executivas), pensando estarem relacionados ao processo inicial de demência ou de estarem mais velhos, por exemplo
Quando vamos fazer o processo de diagnóstico precisamos olhar todas essas diferenças e possibilidades, diferenciando e separando cada uma delas, é como um enorme quebra cabeça (particularmente adoro muito esse processo de investigação e descoberta).
Portanto entrevistas clínicas e testes, para verificar as diversas áreas que o TDAH afeta o indivíduo, são considerados o padrão ouro para esse processo de diagnóstico, estamos evoluindo na parte de exames por imagem, o que pode facilitar muito no futuro a identificação precoce e tratamento mais eficiente.
Para um diagnóstico clínico de TDAH, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - 5 (DSM-5), exige , para adultos (acima de 17 anos), que tenham somente 5 sintomas, estes precisam causar prejuízos em 2 ou mais áreas da vida do indivíduo, e não leva em consideração a instabilidade emocional, mesmo sendo algo comum a quem possui o transtorno. Em adultos mais velhos, o TDAH pode se apresentar diferente, portanto alguns pesquisadores sugerem que a quantidade de sintomas apropriado para o diagnóstico, pode ser menor para pessoas acima dos 40 anos. Em mulheres, levar em consideração os efeitos e intensidade dos sintomas nos diferentes períodos do ciclo fértil e/ou na menopausa é algo que no ambiente clínico precisa ser considerado como básico, por mais que também não seja considerado no DSM-5 atual, como parte dos sintomas para diagnóstico.
O envelhecimento cognitivo normal começa no meio para o final dos 30~, e é quando a velocidade de processamento e resposta motora do cérebro começa a diminuir gradualmente. No meio dos 40~, nossa capacidade verbal e raciocínio matemático começa a diminuir, e conforme vamos envelhecendo nossa atenção seletiva (se focar num objetivo específico enquanto ignora outras informações irrelevantes), memória de trabalho, que é a habilidade de recordar uma informação recente ou ideia depois de se distrair.
O comprometimento cognitivo leve, é uma condição mais grave, porém nos estágios mais iniciais, os sintomas são bem similares ao processo natural de envelhecimento, como dificuldade de lembrar de nomes de pessoas que conheceram recentemente, acompanhar uma conversa, dificuldade de atenção e de focar, uma tendência de colocar as coisas fora do lugar, dificuldade de organizar e planejar as coisas, além de prejuízos nas funções executivas.
E se essa pequena lista de condições que estão associadas ao nosso envelhecimento e prejuízo cognitivos, te soou familiar, é porque são sintomas que vemos e analisamos quando investigamos o TDAH em adultos. O cérebro TDAH tende a processar informações mais lentamente (provavelmente porque ele está passando por todas as possibilidades ao mesmo tempo).
Adultos com TDAH também vão sofrer muito com as dificuldades em suas funções executivas (planejamento, organização, autogestão, percepção e gerenciamento de tempo), constantemente perdendo coisas, trocando-as de lugar, dificuldade de atenção de acompanhar uma conversa.
Mas, é importante pontuar que não existe “ficar com TDAH”. Você não “fica”. TDAH começa desde o nascimento e continua com você pelo resto de sua vida.
Adultos e jovens que estão iniciando a vida adulta, que suspeitam de terem TDAH, muitas vezes são céticos e não veem muito valor em participar de um processo completo de investigação diagnóstica, ainda mais para pessoas acima de 60 anos, a resistência fica ainda mais clara, com pensamentos como “será que vale a pena?’
A resposta seria: depende das circunstâncias da pessoa. Mas! Um diagnóstico de TDAH é absolutamente essencial e necessário para o tratamento médico dos sintomas. Testagem, tratamento medicamentoso, psicoterapia, e outras ferramentas de intervenção requerem um diagnóstico para que sejam cobertos por um plano de saúde, por exemplo. Idade nunca deveria ser um impedimento para uma avaliação ou tratamento para TDAH.
Descobrir ter TDAH pode ser devastador num primeiro momento, mas abre portas para reencontrar muitos sonhos descartados e uma construção de qualidade de vida sem precedentes.
Para fazer esse texto, me inspirei muito nesse artigo, ele é mais focado no diagnóstico para pessoas acima dos 50, mas é ótimo de qualquer forma, recomendo.
referencias: https://www.additudemag.com/inside-the-aging-adhd-brain/?ecd=wnl_additude_240604_cons_adhd_adult&goal=0_d9446392d6-9ba315bacc-314624206
Autora do artigo de referência: Linda Roggli, PCC